quinta-feira, abril 11, 2013

Mulher, aprenda a se defender do cancer de ovario


          O tumor mais letal a atingir as mulheres já pode ser diagnosticado mais cedo. Um documento assinado por 40 organizações americanas reconhece que esse câncer tem, sim, alguns sintomas, muitas vezes ignorados por médicos e pacientes. Manter-se atenta aos sinais emitidos pelo corpo pode fazer a diferença.
(Cristina Nabuco)Ele tem fama de matador silencioso. Embora corresponda a no máximo 4% dos tumores malignos que afetam as mulheres - incidência bem inferior à do câncer de mama -, o câncer de ovário provoca mais estragos. É uma das principais causas de morte feminina nos países industrializados (a quarta na Grã-Bretanha, a quinta no Canadá) porque, em 80% dos casos, o diagnóstico da doença é feito em estágio muito avançado, quando as células malignas já se espalharam pela cavidade abdominal e as chances de cura são menores. Os índices de sobrevivência poderiam pular de 30 para 90% com a descoberta precoce desse mal. Por isso, os cientistas estão em busca de um teste de rastreamento equivalente à mamografia, que identifica o tumor de mama em estágios iniciais. A boa notícia é que os pesquisadores enxergam uma luz no fim do túnel: os sintomas do câncer de ovário podem ser percebidos mais cedo do que se supunha.
Os trabalhos de Barbara Goff, diretora de oncologia ginecológica da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, contestam a tese de que os sinais só aparecem tardiamente. Em janeiro, ela publicou um artigo sobre o tema na revista científica CANCER, o que conduziu a uma nova conduta na área médica. No dia 25 de junho, organizações lideradas pela Fundação do Câncer Ginecológico, pela Sociedade dos Oncologistas Ginecológicos e pela Sociedade Americana do Cân cer formalizaram um consenso atualizado sobre a doença.O documento destaca que quatro sintomas podem levar a mulher a pesquisar a presença do câncer de ovário: inchaço ou aumento do volume abdominal, dor pélvica ou abdominal, dificuldade para comer ou sensação rápida de saciedade e alterações urinárias, como a necessidade urgente ou freqüente de ir ao banheiro. Apresentá-los quase diariamente por mais de três semanas justifica uma ida ao médico, sobretudo quando sinalizarem mudança no estado habitual de saúde. "Não queremos assustar as pessoas", disse Barbara Goff em entrevista ao jornal THE NEW YORK TIMES. Esses sintomas podem ter outras causas, inclusive benignas, mas ela adverte: O câncer de ovário é uma hipótese a ser considerada".
É justamente aí que está o problema. "Os médicos nem sempre valorizam as queixas e perdem oportunidades de antecipar a descoberta do tumor", afirma ela. Ao estudar 1,7 mil pacientes com câncer de ovário, Barbara verificou que 36% tiveram um diagnóstico inicial equivocado, atribuído a depressão ou stress, entre outros problemas. Pior: 12% ouviram que não tinham nada de errado e que a origem de seu mal-estar era de ordem psicológica. "A expectativa é que o consenso firmado em junho levante a suspeita de câncer mediante essas queixas, em geral colocadas em segundo plano", informa Agliberto Barbosa de Oliveira, presidente da Sociedade Brasileira de Ginecologia Oncológica (Sobragon). "Isso deve estimular o encaminhamento para o ginecologista oncológico, especialista mais habilitado para reconhecer e tratar o tumor, e possibilita maior número de diagnósticos precoces."Ainda é cedo para saber se a lista de sintomas conseguirá reduzir a mortalidade por câncer de ovário ou se, na outra ponta, levará a uma enxurrada de exames e cirurgias desnecessárias, avalia Jesus Paula Carvalho, professor da Faculdade de Medicina da USP e chefe do grupo de Câncer Ginecológico do Hospital das Clínicas de São Paulo, "mas é um método válido enquanto não dispomos de opção melhor, como um teste para detectar o câncer de ovário em estágio mais precoce: antes que manifeste qualquer sintoma".Conheça o inimigo:O termo câncer de ovário é uma espécie de guarda-chuva sob o qual se abrigam diversas doenças. A mais freqüente delas, o carcinoma de ovário, é também uma das mais agressivas: surge após a menopausa, embora comece a se desenvolver anos antes. Os tumores de células germinativas afetam sobretudo adolescentes e mulheres mais jovens. Já os de cordões sexuais e os borderline (de baixo potencial de malignidade ou limítrofes) podem surgir em qualquer idade. Os prognósticos são melhores para os borderline, que acabam curados em mais de 90% dos casos.Como se faz o diagnóstico?Pelo exame ginecológico, palpação abdominal e toque vaginal, por meio de imagens colhidas por ultra-som, se possível endovaginal, tridimensional e com doppler (que mostra o fluxo de sangue no local, o que fornece pistas para os médicos), e pelo marcador tumoral CA 125, teste sanguíneo que dosa uma proteína produzida pelo câncer. Mas, embora seja útil para acompanhamento de tumores, o marcador não é muito confiável para diagnóstico inicial, avisa Agliberto Oliveira.Cistos de ovário podem virar câncer?Felizmente não, porque uma em cada três mulheres em idade reprodutiva forma esses "sacos" cheios de líquido. Mais de 80% constituem acidentes de percurso sem maiores conseqüências, por isso recebem o nome de cistos funcionais. Contudo, nem sempre é fácil distinguir um cisto inofensivo de um tumor maligno.Certas características avistadas no ultra-som aumentam a suspeita de câncer, informa o médico Jesus Carvalho: conteúdo sólido e líquido, presença de múltiplas cavidades e formação de uma rede de vasos no local. A confirmação requer uma biópsia, isto é, uma análise microscópica de amostras do cisto.É possível fazer punção ou uma cirurgia não invasiva para coletar esse material?Na suspeita de câncer de ovário, tanto a punção (aspiração do conteúdo com agulha) quanto a cirurgia por via laparoscópica devem ser descartadas. Há perigo de disseminar as células malignas, facilitando o aparecimento de novos focos do tumor. Se os indícios forem fortes, recomenda-se uma cirurgia exploratória.Como é o tratamento?O principal é a cirurgia para remoção dos tecidos, que será mais ou menos radical conforme o tamanho e a agressividade do tumor. Leva-se também em conta a idade da paciente. Se ela não tiver filhos, procura-se preservar o outro ovário e o útero, desde que não haja risco de vida. Do contrário, pode-se congelar óvulos ou fragmentos sadios do ovário para uso futuro em fertilizações assistidas, sugere Agliberto Oliveira. O tratamento envolve, ainda, quimioterapia, emprego de fármacos contra as células tumorais. Pode ser feita após a cirurgia, antes (se a intenção é reduzir o tamanho do tumor para aplicar uma técnica mais conservadora) ou durante. A quimioterapia intra-operatória é um método experimental em que as drogas são injetadas dentro do abdome, em temperatura normal ou elevada, para destruir células malignas.Quais são os fatores de risco?Histórico pessoal de câncer de mama (os dois tumores podem se originar da mesma mutação genética) e antecedente familiar (quem apresenta casos na família pode herdar uma predisposição para a doença).Mas, atenção, apenas 10% dos tumores são de origem genética. Os demais estão relacionados à exposição a agentes tóxicos (cigarro, agrotóxicos e uso regular de talco nos genitais) e estilo de vida, como mudanças na alimentação e em especial nos hábitos reprodutivos. É bom lembrar que, no início do século 20, a mulher menstruava apenas 50 vezes na vida, porque casava cedo, tinha muitos filhos e passava longos períodos amamentando. Agora menstrua mais de 350 vezes porque retarda a gravidez, tem poucos filhos e amamenta menos. "O câncer de ovário está relacionado ao número excessivo de ovulações", explica Jesus Carvalho.Pílula anticoncepcional previne o tumor?Considera- se que ela tem efeito protetor porque suprime a ovulação. O emprego de pílula por mais de cinco anos faz a incidência de câncer de ovário cair 60%. A terapia de reposição hormonal tem o mesmo efeito protetor? Não, porque nessa fase os ovários já encerraram a atividade. O que dá resultado é inibir a ovulação. Existe a suspeita de que a reposição hormonal cause alguns tipos de tumores mais raros. Drogas para induzir a ovulação podem provocar o câncer? O citrato de clomifeno, empregado em tratamentos de fertilização assistida, foi colocado no banco de réus por hiperestimular os ovários e também porque se observaram vários casos entre as usuárias. Porém, trabalhos recentes sugerem que o ovário dessas mulheres já era mais propenso ao câncer antes mesmo de travar contato com a droga. O que fazer quando a mulher sabe que corre risco por ser portadora de mutações genéticas? A probabilidade de ter um câncer de ovário chega a 60% para quem possui mutações nos genes BRCA 1 e BRCA 2. Pode-se cogitar um acompanhamento rigoroso, uso de contraceptivos orais ou uma medida mais drástica: a retirada preventiva dos ovários. Estudos detectaram o câncer em 2,5% dos ovários aparentemente saudáveis e assintomáticos removidos por precaução, informa Jesus Carvalho.O cuidado se justifica, já que o câncer de ovário é um dos mais devastadores. Daí se entende porque o aparecimento de uma pequena luz no fim do túnel foi suficiente para mobilizar tantas organizações.


Women learn to defend ovarian cancer




The most lethal tumor to reach women may already be diagnosed earlier. A document signed by 40 U.S. organizations recognize that cancer does have some symptoms, often ignored by doctors and patients. Remain alert to the signals emitted by the body can make the difference.

(Cristina Nabuco)
He has a reputation for silent killer. Although corresponds to a maximum of 4% of the malignant tumors that affect women - well below the incidence of breast cancer - ovarian cancer causes more damage. It is a major cause of death in industrialized countries female (the fourth Britain, fifth Canada) because in 80% of cases, the diagnosis is done on very advanced stage, where the malignant cells have spread the abdominal cavity and the chances of cure are smaller. Survival rates could jump from 30 to 90% with early detection of this evil. Therefore, scientists are looking for a screening test equivalent to mammography, which identifies the breast tumor in early stages. The good news is that researchers see a light at the end of the tunnel: the symptoms of ovarian cancer can be perceived earlier than previously thought.

The work of Barbara Goff, director of gynecologic oncology at the University of Washington, U.S., challenge the thesis that the signs appear only later. In January, she published an article on the subject in the journal CANCER, which led to a new approach in the medical field. On June 25, organizations led by the Gynecologic Cancer Foundation, the Society of Gynecologic Oncologists and the American Society of can cer formalized an updated consensus about the disease.
The document highlights that four symptoms can lead women to search for the presence of ovarian cancer: bloating or increased abdominal size, pelvic or abdominal pain, difficulty eating or feeling of fullness quickly and urinary disorders, such as frequent or urgent need go to the bathroom. Introduce them almost daily for more than three weeks warrants a trip to the doctor, especially when to signal change in usual state of health. "I do not want to scare people," said Barbara Goff in an interview with THE NEW YORK TIMES. These symptoms can have other causes, including benign, but she warns: Ovarian cancer is a hypothesis to be considered. "

Precisely therein lies the problem. "Doctors do not always appreciate the complaints and miss opportunities to anticipate the discovery of the tumor," she says. By studying 1700 patients with ovarian cancer, Barbara found that 36% had an initial diagnosis wrong, attributed to stress or depression, among other problems. Worse, 12% had not heard anything wrong and that the source of his discomfort was psychological. "The expectation is that the agreement signed in June raise the suspicion of cancer through these complaints, generally placed in the background," says Agliberto Barbosa de Oliveira, president of the Brazilian Society of Gynecology Oncology (Sobragon). "This should encourage referral to the gynecologist oncology specialist better able to recognize and treat the tumor, and allows a greater number of early diagnoses."
It is too early to know whether the list of symptoms able to reduce mortality from ovarian cancer or, at the other end, will lead to a barrage of tests and unnecessary surgery, assesses Jesus Paula Carvalho, professor of medicine and chief of the USP group of Gynecological Cancer Hospital das Clinicas in Sao Paulo, "but it is a valid method while we have no better option, as a test to detect ovarian cancer at an earlier stage: before any symptoms manifest."
Know the enemy:
The term ovarian cancer is a kind of umbrella under which to shelter several diseases. The most frequent of them, ovarian carcinoma, is also one of the most aggressive: arises after menopause, but begins to develop years before. The germ cell tumors primarily affecting teenagers and younger women. Since the strands of sexual and borderline (low malignant potential or borderline) can appear at any age. The predictions are best for the borderline, which end cured in over 90% of cases.
How is it diagnosed?
At gynecological examination, abdominal palpation and vaginal examination, using images taken by ultrasound if possible endovaginal three-dimensional and Doppler (which shows the flow of blood at the site, which provides clues for doctors), and the marker CA 125 tumor, blood test dosa that a protein produced by cancer. But, while useful for monitoring tumor, the marker is not very reliable for initial diagnosis, warns Agliberto Oliveira.
Ovarian cysts can turn into cancer?
Fortunately not, because one in three women of reproductive age so these "bags" filled with fluid. Over 80% of accidents are inconsequential route, so are called functional cysts. However, it is not always easy to distinguish a harmless cyst from a malignant tumor.
Certain features spotted on ultrasound increase the suspicion of cancer, the doctor informs Jesus Oak: solid and liquid content, the presence of multiple cavities and formation of a network of vessels on site. Confirmation requires a biopsy, i.e., microscopic examination of samples of the cysts.
You can punch or a non-invasive surgery to collect this material?
In suspected cases of ovarian cancer, both puncture (content aspiration needle) and laparoscopic surgery should be discarded. There is danger of spreading malignant cells, facilitating the emergence of new foci of tumor. If the signs are strong, it is recommended exploratory surgery.
How is it treated?
The main surgery to remove tissue that will be more or less depending on the size and radical tumor aggressiveness. It takes also into account the patient's age. If she has no children, seeks to preserve the uterus and other ovary, provided there is no risk of life. Otherwise, you can freeze eggs or ovarian fragments healthy for future use in assisted fertilization, suggests Agliberto Oliveira. The treatment also involves chemotherapy, use of drugs against tumor cells. Can be done after surgery before (if the intention is to reduce the size of the tumor to apply a technique more conservative) or during. Intraoperative Chemotherapy is an experimental method in which drugs are injected in the abdomen, normal or elevated temperature to destroy malignant cells.
What are the risk factors?
Personal history of breast cancer (the two tumors may originate from the same genetic mutation) and family history (who presents cases in the family can inherit a predisposition to the disease).
But beware, only 10% of tumors are of genetic origin. The others are related to exposure to toxic agents (cigarette, pesticides and regular use of talc in genital) and lifestyle, such as dietary changes and especially in reproductive habits. It is worth remembering that in the early 20th century, the woman menstruated only 50 times in my life, because married early, had children and spent many long periods breastfeeding. Now menstruate over 350 times because delays pregnancy, have fewer children and breastfeed less. "Ovarian cancer is related to the excessive number of ovulations," explains Jesus Carvalho.
Birth control pill prevents tumor?
It is considered that it has a protective effect because it suppresses ovulation. The use of the pill for more than five years makes the incidence of ovarian cancer dropped 60%. The HRT has the same protective effect? No, because at that stage the ovaries have shut down the activity. What works is to inhibit ovulation. It is suspected that HRT causes some rarer tumor types. Drugs to induce ovulation can cause cancer? Clomiphene citrate, used in assisted fertilization treatments, was put in the dock by hiperestimular ovaries and also because several cases were observed among users. However, recent work suggests that the ovary of these women was already more prone to cancer before they even make contact with the drug. What to do when a woman knows she is at risk for being a carrier of genetic mutations? The likelihood of having ovarian cancer reaches 60% for those with mutations in the BRCA 1 and BRCA 2. One can contemplate a strict monitoring, use of oral contraceptives or a more drastic measure: a preventive withdrawal of the ovaries. Studies have detected the cancer in 2.5% of apparently healthy and asymptomatic ovaries removed as a precaution, Jesus tells Carvalho.
Caution is warranted, since ovarian cancer is one of the most devastating. Hence, one understands why the appearance of a small light at the end of the tunnel was sufficient to mobilize many organizations.
















Nenhum comentário:

Postar um comentário