domingo, novembro 09, 2014

O ENEM E A DEMOCRATIZAÇÃO RACIAL NO ENSINO SUPERIOR

Mais de cinco milhões de estudantes que farão o exame se declararam pretos e pardos no momento da inscrição
Dentre os 8,7 milhões de inscritos neste ano para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), 57,9% se declararam pretos ou pardos. A presença dos estudante negros tem crescido nos últimos exames e é maior do que sua participação na população do país (53%, segundo a Pnad 2013).

O uso do exame como porta de entrada para a maioria das instituições federais de ensino, que adotam a Lei de Cotas, e para os programas federais de bolsas (ProUni) e de financiamento estudantil (Fies) são algumas das possíveis explicações para o crescimento da participação de negros no exame. Em 2012, o número era de 3.094.545, o que representava 54,3% dos inscritos. Em 2013, o percentual era de 55,8%.
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"As ações afirmativas, o Prouni, o Fies aumentam a expectativa de alunos negros e de escola pública, que agora percebem ter chances de entrar na faculdade", comenta Marcelo Paixão, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
58,1%dos inscritos
são mulheres
57,9%se declararam
pretos ou pardos
38,8%têm
entre 17 e 20 anos
"Esses programas sinalizam que o espaço [da faculdade] não é só para o filho do bacana. Mais pobres se inscrevem porque percebem que agora têm possibilidade de entrar e essa era uma parte da juventude que estava desalentada", afirma.
Paixão destaca, no entanto, que é importante perceber que a população que se declara negra também tem aumentado na população em geral: "há mudanças culturais acontecendo". Na Pnad de 2004, 48,1% da população se declarava preta ou parda. Em 2013, o percentual saltou para 53%.
Perfil do candidato
Kimberly Oliveira da Silva, 19 anos, fará as provas do Enem no próximo final de semana para conseguir uma vaga no curso de publicidade e propaganda ou design. A estudante negra pretende concorrer pela Lei de Cotas a uma vaga da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) ou da Uemg (Universidade do Estado de Minas Gerais).
Kimberly representa o perfil médio do candidato inscrito no exame: mulher, negra, entre 17 e 20 anos e já concluiu o ensino médio.
Formada em uma escola pública de Osasco, a candidata trabalha durante o dia e se prepara para o exame nacional no Cursinho da Poli à noite. Aproveita a hora do almoço, o trajeto do ônibus e os finais de semana para rever conteúdo.


DivulgaçãoKimberly Oliveira, 19, fará o Enem para concorrer a vaga na UFMG"Fiz o Enem ano passado, como uma experiência. Agora estou mais focada nele", conta ela, que fará também as provas de vestibular da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Seu objetivo é conquistar uma vaga noturna em universidade pública, para poder trabalhar durante o dia. Se nada disso der certo, ela conta que tentará uma bolsa do ProUni em uma instituição privada no próximo ano.

Maioria na população, negros ainda são minoria no ensino superior
Apesar da criação de políticas de ação afirmativa, os negros, que são maioria na população, ainda são minoria dentro do ensino superior. Em 2013, 60% dos matriculados no ensino superior brasileiro eram brancos e 37,6% dos estudantes se declaravam pretos ou pardos.
A situação é um pouco mais favorável em instituições públicas em relação às privadas. Nas públicas, os negros eram 41,4% dos estudantes em 2013. Em particulares, eram apenas 35,13%.
"Essa diferença ainda é bastante importante porque muitos obstáculos ainda barram o estudante negro de entrar na faculdade. A discrepância é por causa de todas as diferenças na vida escolar, isso não é de surprender", explica Paixão, da UFRJ.

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