sábado, janeiro 11, 2014

Quem são os Perrella, envolvidos no “escândalo do helicóptero”

Articlação ação comandada por Aécio Neves levou Zezé Perrella a se tornar suplente de senador. Família tem negócios no setor de alimentos, mas ganhou notoriedade e força política com o futebol

Revista Fórum

O episódio do helicóptero, de propriedade de uma empresa dos filhos do senador Zezé Perrella, apreendido com 450 kg de cocaína tem sido tratado com cuidado pela mídia, o que é justo, já que o caso ainda está sendo investigado e as responsabilidades serão apuradas. Esse zelo nem sempre foi tomado em outras ocasiões, mas algo que não foi explicado de forma didática pela mídia em geral são as relações dos Perrella com o meio político mineiro, fato pouco conhecido fora do estado.

 

Quem vê que o senador José Perrella de Oliveira Costa, Zezé, pertence ao PDT, partido da base aliada do governo Dilma Rousseff, pode ficar apenas na superfície de mais uma daquelas situações que expõem o caótico cenário político brasileiro. Suplente do senador Itamar Franco (PPS), ele se tornou titular com a morte do ex-presidente, mas isso só foi possível graças ao bom trânsito e à proximidade que tem com o presidenciável tucano Aécio Neves.

 

Nessa entrevista, de julho de 2011, quando se preparava para tomar posse, Perrella explicava sua situação. “Tenho um compromisso com as forças políticas que me elegeram, capitaneadas pelo senador Aécio Neves e pelo governador Anastasia. No plano nacional, realmente o nosso partido tem compromisso com a Dilma. Mas não posso esquecer também que pela Dilma nós perderíamos a eleição. Ela apoiou o (ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) Fernando Pimentel (PT). Sei que tenho compromisso com o partido, mas conversei com o presidente. Quero ter posição bastante independente. Obviamente não haverá alinhamento automático nem com a situação nem com a oposição. Acho que, no que for do interesse de Minas, vou votar com o governo do estado, e o que for interessante para o Brasil vou votar com o governo federal. Realmente a situação é complicada. Tenho dever de lealdade com as forças políticas que me elegeram, com Itamar Franco e Aécio.”


 

Na mesma época, o jornalista Juca Kfouri foi taxativo: “mais uma herança que devemos a Aécio Neves”, disse, em 2011. “Foi ele quem fez a articulação pra por Zezé Perrella, do PDT, na aliança que elegeu tanto ele senador como o atual governador de Minas [Antonio Anastasia]. Foi Aécio Neves quem fez esse favor, compadre de Zezé Perrela, um compadrio do mesmo clube para qual ambos torcem… Mas, enfim, mais uma pra conta de Aécio Neves”.


 

Filho de José Henriques Costa, prefeito de São Gonçalo do Pará (MG) por dois mandatos (1967-1971 e 2001-2004 ), o atual senador foi presidente do Sindicato das Indústrias de Carne, Derivados e de Frios de Minas Gerais (Sinduscarne) entre os anos de 1992 e 1997, e começou a trabalhar como dirigente esportivo – cartola, no jargão do futebol – em 1994, no atual campeão brasileiro Cruzeiro, seu time de coração. A projeção de sua atuação no clube o levou a ser o segundo deputado federal mais votado de Minas Gerais, pelo então PFL, atual DEM, em 1998. Foi derrotado na disputa ao Senado em 2002 e recusou convite do então governador Aécio Neves para ocupar o cargo de presidente da Loteria Mineira. Em 2006, elegeu-se deputado estadual pelo PSDB, legenda na qual ficou até 2009.


 

A mistura entre futebol e política fez a fama de Perrela, e seu irmão, Alvimar, também foi presidente do Cruzeiro. Em 2011, o jornal Hoje em Dia mostrou até onde ia essa proximidade entre áreas aparentemente distintas, envolvendo ainda outros atores. Perrella abriu a Toca da Raposa I, centro de treinamento do clube, para um torneio de promotores de Justiça, mesmo sendo, à época, alvo de duas investigações do Ministério Público em Minas Gerais por enriquecimento ilícito e uso indevido de verbas públicas no período em que era deputado estadual (2007 a 2010).


 

No fim de outubro, o senador-cartola conseguiu contornar uma punição dada ao clube de Belo Horizonte pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), a perda de um mando de campo em função de incidentes ocorridos no clássico contra o Atlético-MG, no estádio Independência. De acordo com reportagem da ESPN, a CBF acabou voltando atrás da punição que valeria para o duelo entre Cruzeiro e Grêmio, no último dia 10 de novembro, no Mineirão. A razão da mudança de ideia? “A entidade decidiu após apelo feito pelo senador e ex-dirigente Zezé Perrella (PDT), juntamente com o também senador Aécio Neves (PSDB)”, diz a matéria.

Em família

 

Além do irmão, Alvimar, o filho de Zezé Perrella, Gustavo, também foi inserido no cenário político-futebolístico. Conselheiro do Cruzeiro, elegeu-se deputado estadual nas últimas eleições com 82.864 votos. A Limeira Agropecuária, empresa na qual é sócio majoritário junto com a irmã e um primo, já esteve envolvida em outra investigação do Ministério Público. Em 2011, surgiu a denúncia de que o senador havia ocultado de sua declaração de patrimônio uma fazenda avaliada por corretores em cerca de R$ 60 milhões. A Fazenda Guará é uma filial da Limeira, anteriormente comandada por Zezé. Em 2012, outra investigação foi feita sobre a contratação pelo governo do estado, sem licitação, da mesma Limeira para fornecimento de grãos ao programa ‘Minas sem Fome’, implantado no Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha.


 

Em julho, a revista IstoÉ publicou reportagem na qual mostrava que o senador havia destinado R$ 6 milhões em emendas para a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), recursos alocados para comprar sementes. “Até aí, nada de anormal. Ocorre que boa parte desse dinheiro – pelo menos R$ 2,4 milhões – acabou parando nas contas da Limeira Agropecuária, cujos sócios majoritários são filhos do senador suplente. A empresa de Gustavo e Carolina Perrela é a principal fornecedora de sementes para a Epamig”, conta a matéria.


Mas os problemas da família com a Justiça não se limitam à atuação da Limeira. No ano passado, a Stillus, empresa de Alvimar de Oliveira Costa, foi alvo da Operação Laranja com Pequi, deflagrada em junho pelo Ministério Publico Estadual (MPE), junto com as polícias Federal e Militar. O suposto esquema seria comandado pela empresa, que fraudaria licitações em Minas e em Tocantins, desviando recursos públicos por meio de contratos de fornecimento de refeições para presos e de merenda escolar, somando um total de cerca de R$ 166 milhões, com desvio estimado de R$ 55 milhões. Em setembro, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) considerou as provas obtidas na operação como inválidas, mas o Superior Tribunal de Justiça (STJ)reverteu a decisão.

Em fevereiro deste ano, outro irmão de Zezé, Gilmar de Oliveira Costa, um dos sócios da empresa GN Alimentos, foi indiciado após a operação Vaca Atolada, da Polícia Federal, por adulteração de alimentos e formação de quadrilha. De acordo com a investigação, que também resultou no indiciamento de outros donos de frigoríficos, as empresas injetavam água nos alimentos para aumentar o peso dos produtos, obtendo mais lucros nas vendas. A PF estimou que o procedimento resultava em um aumento de 20% a 50% no peso da carne.


 

Zezé Perrela, em sessão do Senado (Foto Lia de Paula/Agência Senado)


 

Helicóptero e cocaína


 

O delegado da superintendência da Polícia Federal em Vitória (ES) Leonardo Damasceno já declarou que o Gustavo Perrella terá que prestar depoimento à Polícia Federal, assim como sua irmã Carolina e seu primo, André Almeida Costa, todos sócios da Limeira. ”Os donos do helicóptero terão que explicar os motivos”, afirma o delegado.

 

 



Zezé Perrella com Aécio Neves e o irmão, Alvimar
 (Foto: Reprodução)

 

 

Por enquanto, a responsabilidade pelo transporte da droga apreendida é do piloto da aeronave, Rogério Almeida Antunes, funcionário da Limeira e da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nomeado pelo deputado estadual Alencar da Silveira Júnior (PDT). O parlamentar afirma ter feito a contratação por indicação de Gustavo Perrella.


 

Em entrevista ao Viomundo, o advogado Nicácio Pedro Tiradentes, que representa o piloto, afirmou que Gustavo mentiu ao dizer que o piloto roubou o helicóptero. Antunes teria feito duas ligações para o deputado antes de voar o frete. De acordo com Tiradentes, tanto o piloto quanto o deputado acreditavam tratar-se de implementos agrícolas.

 


 
 
 
 

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