domingo, julho 21, 2013

Após morte de MC, funkeiros querem colete à prova de bala

Cordão de ouro, óculos, roupas e relógios de grife compõem o estilo dos funkeiros estilo ostentação, fenômeno musical dominante tanto nas periferias como nas casas noturnas de classe média. A indumentária dos MC's deve ganhar um novo adereço: colete à prova de balas.

Apologia ao crime dá lugar ao luxo nas novas músicas de funk

A imagem do MC Daleste caindo após levar um tiro quando cantava para cerca de 250 pessoas num conjunto habitacional de Campinas (93 km de SP), no último dia 6, não só chocou como levou pânico ao mundo do funk.

Assim como Daleste, os cantores do tipo ostentação gravam clipes em que aparecem cercados de mulheres, em carros de luxo e taças de champanhe nas mãos. Já tiveram mais de 60 milhões de acessos no site YouTube.

Após o assassinato, eles passaram a exigir de quem os contrata seguranças no palco e nas imediações, além de rotas de entrada e saída das apresentações. Também recusam espetáculos em locais onde a violência impera.

Mais: querem uma autorização do poder público para a compra de coletes à prova de balas. Um aparato do tipo teria salvo a vida de Daleste.

Danilo Verpa/Folhapress
Os MCs Bio G3 e Bó, considerados precursores do estilo funk ostentação
Os MCs Bio G3 e Bó, considerados precursores do estilo funk ostentação

A medida não é novidade no mundo da música. Ícone do rap americano, 50 Cent, passou a usar a proteção após levar nove tiros, no ano 2000.

"Estamos diante do inimigo invisível. Não sabemos quem está atentando contra os MCs. Estamos com medo, sim", disse à Folha Cleber Alves, 29,o MC Bio G3, conhecido como o inventor do estilo ostentação, cujas letras falam dos sonhos de consumo das comunidades carentes.

Além de cantar --compôs o "Bonde da Juju", obrigatória na set list dos pancadões-ele criou uma produtora que gerencia a carreira de MCs, entre eles, Daleste.

Nos últimos dias, tem ouvido apelos preocupados de seus parceiros, alguns cogitando segurança armada.

Bio G3 trocou a vida numa casa simples de Cidade Tiradentes (extremo leste), reduto do funk em São Paulo, por um condomínio, na mesma zona leste, com carro importado na garagem. Os shows que produz acontecem porém, em sua maioria, na periferia das cidades.

A violência deve diminuir a frequência de shows em comunidades pobres, onde há crimes. As agendas estão sendo revistas. "A maioria dos funkeiros vem de bairros carentes e se sente parte deles. É gratificante tocar onde a criança não pode pagar. Mas não dá para pensar só dessa forma", disse.

Editoria de Arte/Folhapress
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Segundo ele, antes de aceitar um convite para tocar, será exigido um mapa do local para visita prévia, ambulância e seguranças no palco. "Sem essas garantias, não vamos mais tocar".

Ele e outros músicos tentam agendar uma audiência com o secretário da Segurança Pública, Fernando Grella, para discutir medidas de proteção e autorização para a compra de coletes, que são de uso controlado pelo Exército.

A morte de Daleste é o sétimo episódio recente envolvendo MCs no Estado.

Na Baixada Santista, cinco funkeiros foram mortos e um sexto sobreviveu a vários tiros (veja quadro), nos últimos três anos. PMs chegaram a ser investigados em um dos assassinatos, mas nenhum caso foi solucionado ainda.

Na capital, Jokrey Alves de Figueiredo, 28, o MC Brow, foi morto a tiros na zona norte, no ano passado. Mais um crime a ser desvendado.

Com correntes douradas e anéis no melhor estilo ostentação, Rolland Ribeiro, pai de Daleste, disse que não vê outro motivo para o assassinato: "A inveja mata".
GIBA BERGAMIM JR.DE SÃO PAULO

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