New York Times elogia o Brasil com sua politica de resposta para desigualdade
Foi preciso que um jornalista com
visão limpa viesse do exterior, exatamente dos Estados Unidos, para informar
aos brasileiros o óbvio ululante.
José
Carlos Peliano (*)
Colunista sênior do The New York Times, Joe Nocera, escreveu sobre o Brasil na
segunda feira agora, dia 20, apontando a surpresa que lhe despertou a cidade do
Rio de Janeiro. Muniu-se de mais informações após sua viagem de volta aos
Estados Unidos, reunindo-se com alguns economistas para procurar entender o que
se passava com o país em particular onde se apoiavam seus pilares econômicos.
Chamou-lhe a atenção, o que os brasileiros já sabiam, a variedade de boas lojas
em bairros como Ipanema e igualmente a quantidade de pobreza nas favelas ao
redor. Segundo ele, para os visitantes, saltava aos olhos o número de cidadãos
de classe média pelas ruas em meio aos carros por todos os lados e o tráfego
congestionado. Por não ser ilusão o que via, passou a acreditar que tudo aquilo
era sinal de uma classe média emergente. As pessoas tinham dinheiro para
comprar carros.
Foi preciso que um jornalista com visão limpa viesse do exterior, exatamente
dos Estados Unidos, país cuja cultura nos é bem conhecida, para informar aos
brasileiros o óbvio ululante, salve Nelson Rodrigues, já que os profissionais
dos nossos jornalões e televisões de plantão não informam por não saberem ver
ou não conseguirem enxergar.
Se tivesse dito só isto já era o suficiente para mostrar que as mídias sociais,
baluartes modernos da resistência informativa, veem como ele o país. Mas suas
observações foram mais carregadas ainda de tinta ao destacar a queda na
desigualdade de renda na última década, os recordes atuais do baixo desemprego
e a saída da pobreza de cerca de 40 milhões de pessoas. Por fim, ainda
assinalou que, embora o crescimento do produto tenha reduzido, a renda per
capita continua a subir.
Já os economistas reunidos com ele relativizaram as conquistas. Disseram que a
boa forma da economia brasileira tem voo curto a despeito dos ganhos obtidos.
Estariam faltando ganhos em produtividade para sustentar a volta dos
investimentos. O baixo desemprego dos que querem trabalhar seria porque,
enquanto a economia cresce pouco e com eficiência contida, o Estado compensa
incentivando o consumo com programas sociais. Para eles o país teve mais sorte
do que sucesso.
Não é sorte, embora os santos possam ter ajudado! Com a retração dos
investimentos, apesar do esforço e incentivo do governo, a estratégia de
expansão do consumo foi estabelecida para segurar a economia, mesmo a
crescimento baixo, exatamente nesses anos de vacas magras desde o início da
crise financeira mundial com a quebra do Lehman Brothers. O Brasil foi um dos
poucos países que suportaram o baque, outros entraram em recessão ou mais leves
ou mais graves, todos eles fazendo o dever de casa imposto pelas autoridades
financeiras mundiais de ajustar e pagar suas dívidas públicas e privadas,
desviando os olhos dos impactos sociais. Pois então, enquanto o Brasil cresce
devagar, a economia mundial não conseguiu ainda se levantar.
De fato, o viés de consumo da política econômica é opção do governo que deu
certo interna e externamente. Aqui, liderado pelos programas sociais somam-se
outras medidas complementares, entre elas, correções maiores que a inflação no
salário mínimo, aposentadorias e pensões e repasses parciais à gasolina dos
aumentos de custos. Lá fora, os economistas com ele reunidos não viram: o
próprio governo dos Estados Unidos e a ONU se interessaram pelo Programa Bolsa
Família e pretendem implementá-lo para reduzir o desemprego, melhorar a renda
familiar e sustentar o consumo. Joe Nocera destaca o papel do programa e
compara seu êxito com a recusa do Congresso americano em melhorar o seguro
desemprego e outros programas sociais naquele país.
Do lado do investimento, os economistas se esqueceram de mencionar que há
muitas fichas apostadas na expansão e modernização da infraestrutura e na
exploração do pré-sal não só pelos efeitos produtivos diretos, mas também pelos
efeitos indiretos. Um forte incentivo e impulso do complexo industrial são
esperados, o que tem tudo para promover a volta de novos projetos e a expansão
de muitas plantas industriais existentes. Seguras e concretas alternativas
brasileiras mesmo diante da crise mundial que arrasta as economias dos países.
Ao contrário do Brasil, o jornalista afirma que a produtividade americana
voltou a crescer, mas apesar disso o desemprego não desce dos 7% e a classe
média aos poucos perde posição social (em parte por conta de não serem
distribuídos melhor os ganhos de produtividade). Diz taxativamente que a
desigualdade de renda é um fato na vida dos Estados Unidos e ninguém tem sido
capaz de fazer alguma coisa a respeito. Será que no fundo querem seguir a
receita desandada do Brasil de esperar o bolo crescer para distribuir algumas migalhas?
O objetivo do governo atual e dos dois anteriores no Brasil foi exatamente
garantir o desenvolvimento com a melhoria das condições de vida da população,
em especial dos mais pobres; os Estados Unidos querem o desenvolvimento a
qualquer custo. Infelizmente só o jornalista americano consegue entender isto,
parabéns!, os nossos da grande mídia não.
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